Os 5 Maiores Vazamentos de Dados no Brasil e Suas Lições

Conheça os 5 maiores vazamentos de dados no Brasil e o que cada caso ensina sobre falhas, responsabilidades e a urgência da proteção da informação.

PRIVACIDADE DE DADOS

TMC

3/26/20254 min read

A proteção de dados pessoais deixou de ser um tema exclusivo do setor de tecnologia ou jurídico. Hoje, ela está no centro da agenda estratégica de qualquer organização. O cenário brasileiro tem demonstrado isso com clareza: o país figura consistentemente entre os líderes globais em incidentes de vazamento de dados. E por trás de cada caso há lições valiosas — para empresas, gestores, profissionais de segurança da informação e para a sociedade como um todo.

Com base nos dados mais recentes e na análise prática de cada situação, este artigo apresenta os cinco vazamentos mais relevantes registrados no Brasil nos últimos anos e o que eles nos ensinam sobre fragilidades, responsabilidades e caminhos possíveis para uma governança de dados mais madura.

1. Vazamento massivo de 223 milhões de brasileiros (2021)

Em janeiro de 2021, veio à tona um dos maiores vazamentos da história do país: um banco de dados contendo informações de 223 milhões de brasileiros — número que ultrapassa a própria população do país — foi exposto na internet. A base continha dados como nome, CPF, foto, renda, escolaridade e até informações de Score de crédito.

A origem do vazamento não foi oficialmente confirmada, mas há indícios de que os dados teriam sido obtidos a partir de sistemas públicos ou de uma integração indevida com órgãos de consulta de crédito. A principal lição desse caso é clara: a ausência de rastreabilidade e controle sobre o compartilhamento de dados entre instituições públicas e privadas abre espaço para vazamentos de escala nacional. A transparência nos fluxos de dados e o controle de acesso são pilares que não podem ser negligenciados.

2. Caso ConectSUS e o impacto da segurança em serviços críticos (2021)

Em dezembro de 2021, o sistema ConectSUS — plataforma do Ministério da Saúde que armazenava dados sobre vacinação contra a COVID-19 — ficou fora do ar por dias após um ataque cibernético. Informações de milhões de brasileiros ficaram indisponíveis, gerando incertezas, atrasos na emissão de comprovantes de vacinação e desconfiança generalizada na capacidade do governo de proteger dados sensíveis.

Esse episódio revelou um ponto essencial: em serviços essenciais, a indisponibilidade de dados pode ter efeitos tão danosos quanto a exposição. A LGPD trata da proteção da integridade e da disponibilidade da informação, e a ausência de um plano eficaz de contingência compromete não apenas a segurança jurídica, mas o próprio funcionamento do Estado.

3. Banco Pan: vazamento de dados de 245 mil clientes (2023)

Em 2023, o Banco Pan identificou o vazamento de dados cadastrais de cerca de 245 mil clientes. A falha ocorreu em uma API mal configurada, que permitia a consulta a informações sensíveis de forma não autenticada. A exposição incluía nome completo, número de telefone, e-mail, CPF e score de crédito.

Esse caso reforça a importância de auditorias técnicas contínuas e testes de segurança nas integrações de sistemas, especialmente em APIs — que, embora tragam agilidade, também expõem a organização a riscos quando mal implementadas. O controle de acesso e a validação adequada de chamadas são medidas indispensáveis no desenvolvimento seguro de aplicações.

4. Governo Federal: crescimento alarmante de incidentes em 2024

Dados de 2024 apontaram um crescimento de mais de 500% nos vazamentos envolvendo sistemas do Governo Federal apenas nos oito primeiros meses do ano. Entre os alvos estiveram ministérios, autarquias e empresas públicas, expondo desde dados funcionais de servidores até sistemas de pagamentos.

Esse panorama revela uma fragilidade estrutural no setor público brasileiro: falta de investimentos contínuos em cibersegurança, políticas desatualizadas e ausência de resposta rápida a incidentes. Além disso, muitos órgãos ainda operam sem planos de continuidade de negócios e sem inventário completo dos ativos informacionais, dificultando ações corretivas e preventivas.

5. Banco Central: exposição de dados em pesquisa sobre pagamentos (2024)

No final de 2024, o Banco Central comunicou o vazamento de dados de aproximadamente 1.500 participantes de uma pesquisa sobre hábitos de pagamento. A exposição ocorreu por falha no tratamento de dados em uma empresa terceirizada responsável pela pesquisa. Embora o volume não tenha sido expressivo, o impacto institucional foi significativo.

Esse caso evidencia a necessidade de gestão eficaz de terceiros e due diligence constante em toda a cadeia de tratamento de dados. A responsabilidade pelo dado não é transferida ao contratar uma empresa — permanece com o controlador. Monitoramento, cláusulas contratuais específicas e auditorias são essenciais para mitigar riscos em parcerias estratégicas.

Aprendizados que nenhuma empresa pode ignorar

O que esses casos demonstram em comum é que o risco de vazamento de dados é transversal: atinge instituições públicas e privadas, grandes empresas e pequenas operações, sistemas críticos e interfaces simples. E mais do que incidentes isolados, esses vazamentos revelam falhas de processo, de governança e, muitas vezes, de visão estratégica.

Proteção de dados não pode ser tratada como projeto pontual ou como responsabilidade isolada do setor jurídico ou de TI. Ela exige articulação entre áreas, investimento planejado, atualização constante, monitoramento técnico e construção de cultura organizacional. Empresas que adotam essa abordagem integrada não apenas se defendem melhor — elas também conquistam mais confiança, reputação e solidez no mercado.

Se sua empresa já enfrentou um incidente semelhante — ou se você tem um relato que possa contribuir com esse debate — envie sua experiência para contato@gestaolegal.com. Sua história pode ajudar outras organizações a evitarem os mesmos erros, fortalecer políticas de segurança e contribuir com um ecossistema digital mais ético, seguro e responsável.